Inesquecível…

“- Você consegue ver alguma coisa? – Ela disse curiosa.

Eu olhei por cima daquela parede de lençol, não tão curiosa. Estar numa sala de operação não era exatamente algo que eu imaginara em minha vida, embora no meu íntimo, sempre guardei comigo o desejo de vivenciar aquele momento.

– Na verdade vejo que eles estão mexendo na sua barriga. – …“E tem muito sangue também…” mas esse comentário guardei pra mim. Não era algo legal a se dizer naquela hora.

– É, eu sinto que estão mexendo, é esquisito. – Ela disse com um sorriso amarelo.

Eu toquei seus cabelos longos com carinho e beijei-lhe a fronte.

– Mas dói? – Perguntei aflita e olhando de novo. O médico japonês estava quase entrando dentro da barriga dela e tentei não expressar nada que a deixasse preocupada, mas aquilo me impressionou deveras.

– Não, não dói, é esquisito, apenas sinto que estão mexendo lá dentro. – Ela disse, respirando cansada.

– Está nervosa?

Pergunta idiota, mas nada mais inteligente me ocorreu no momento.

– Estou enjoada… – Ela disse fazendo uma careta. – Mas estou nervosa também.

Um dia, há anos atrás na nossa adolescência, naquelas conversas que só amigas tem antes de dormir, comentamos sobre como seria ter filhos. E ambas demos risadas, tão jovens, ter filhos não fazia parte dos nossos planos. Bom, existia a ideia, mas concretizá-la estava além de qualquer plano naqueles dias.

Como diz o ditado, muita água passou debaixo da ponte. A ponte quase rompeu de fato, mas aos poucos o tempo ajudou a reconstruir.

Depois de uma gravidez conturbada, cheia de mal estar, dores entre outras coisas, lá estávamos nós. Eu segurava sua mão. Ela estava com o rosto pálido. Anestesia sempre fazia com que passasse mal e vomitasse. Quem inventou a expressão “Ser mãe é padecer no paraíso”, só podia ser homem. Aliás, como o salto alto né?

Ahm, onde estava? Ah sim, na sala de parto.

– Você quer ver agora? Vamos tirá-la. – Disse o outro médico, um senhor alto, cabelos grisalhos.

Eu olhei para ela. Ela fez que sim com a cabeça.

Ainda segurando sua mão, andei um pouco para frente e vi quando saiu. Ou melhor, foi retirada.

Com cuidado, ele a tirou lá de dentro. Segurando firme, mas delicadamente, o pescocinho e o corpo. Vermelhinha, com toda a gordura que a envolvia naquele momento, a Laura nasceu.

E então o tempo parou para mim. Se me perguntarem se eu estava respirando, eu não sei dizer. Não sei dizer nem a cor dos trajes que usava (daqueles para operação), embora me recordo de ter olhado no espelho minutos antes na sala de preparação e ter a impressão que entraria no set de “E.R.” e daria de cara com o Dr. Carter.

Foi então que aquele ser pequenino se manifestou, mostrando ser dona de uma boa garganta.

A enfermeira a envolveu em toalhas (ou panos, não sei!) e trouxe pra perto de nós. Ela chorava assustada. Saiu de dentro daquele local quentinho, confortável e seguro. Havia muita luz, ruídos e tudo novo. Deuses, nascer deve ser traumático, ainda bem que a gente esquece.

Ela colocou a cabecinha da nenê perto do rosto da mamãe.

– Schh… Está tudo bem, mamãe está aqui. – Ela disse.

E a bebê parou de chorar na hora. Aquilo também me impressionou. Sim, os bebês reconhecem as vozes MESMO.

A enfermeira avisou que a levaria para limpar e etc e logo ela estaria no berçário.

Nos olhamos e então, choramos emocionadas. Depois de 9 meses com milhares de coisas acontecendo, dificuldades e tudo mais, ela nasceu.

– Obrigada por ter ficado comigo. – Ela me disse apertando minha mão. – Teria sido mais difícil sozinha.

– Obrigada por me deixar vivenciar este momento com você. – E enxugando as lágrimas eu tive certeza de que NADA mais poderia marcar minha vida como aquele momento.”

Fazem três anos que isso aconteceu. Mas eu me lembro como se fosse ontem e sinceramente, acho difícil eu vivenciar algo na minha vida que possa superar a emoção de ver o nascimento da minha afilhada.

Mas se não fosse a determinação e dedicação da mãe dela, ela não estaria aqui.

Então, o post de aniversário da Laura é dedicada a Samara, que trouxe ao mundo nossa tartaruguinha querida e que agora, completa seus 3 aninhos.

Esse sorriso vale mais que milhares de palavras. Feliz aniversario, Laura!

E claro, não posso deixar de agradecer ao Papai por sua colaboração essencial desde o primeiro minuto e principalmente, por ter permitido que eu o representasse ao lado da Mamãe, já que ele passa mal com sangue e afins.